Formação, informação, transformação

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Recentemente, fui convidada para dar uma palestra sobre inclusão de pessoas com deficiência em uma universidade. O tema da palestra foi “Inclusão de Pessoas com Deficiência: Uma questão de cidadania”. Vários temas foram abordados, dentre eles a questão da inclusão da pessoa com deficiência nas escolas, a educação inclusiva. Em determinado momento, uma participante do encontro pediu a palavra e disse achar as escolas especiais fantásticas e o local correto para pessoas com deficiência estudarem, completou afirmando que escolas inclusivas são uma utopia.

Eu perguntei se os filhos dela estudavam em escolas especiais já que ela as considera tão boas assim, e claro que a resposta foi negativa, pois os filhos dela são “normais”. Então tá, se as escolas especiais não são boas para os filhos dela porque elas são boas para filhos de outras mães? Quando eu queria continuar essa discussão ela se retirou da sala batendo as tamancas. Ao final da palestra, questionei para a pessoa que me convidou quem era a gentil senhora que havia educadamente feito o comentário, que, para a minha surpresa, ela é coordenadora da faculdade de pedagogia da instituição. Então, estamos falando exatamente da formadora de professores que irão atuar com os alunos. Estamos falando da pessoa que forma professores que sairão da faculdade acreditando que a inclusão não pode dar certo.

Esse fato me fez refletir sobre o momento em que vivemos. É ainda notável a distância entre a promessa igualitária, acenada pela Declaração de Salamanca de 1994 e a realidade cotidiana de toda desigualdade e discriminação vivida pelas pessoas com deficiência. A defasagem entre o ideal e o real é demasiadamente grande e, a segregação ainda é assustadora e, quando vejo que pessoas responsáveis pela formação de profissionais não conseguem mudar antigos paradigmas fico assustada. O pior é não estarem abertas a discussão. Claro que opiniões diferentes da minha existem e isso é saudável, pois somente discutindo racionalmente conseguiremos chegar ao ideal

Eu entendo que estamos em processo de transformação de uma cultura antes baseada na segregação para um meio inclusivo. Sei que mudanças não são fáceis e que a perseverança fará toda a diferença no final. Entendo que os professores ainda estão se adaptando a essa realidade inclusiva e que, muitas vezes, as escolas não dão o apoio necessário para que o trabalho seja desenvolvido de forma adequada. Sei que 30 alunos em uma sala é muito, mas o problema não é do aluno e sim da estrutura fornecida pela escola, não estamos falando aqui de permanência física de alunos com deficiência nas escolas, queremos uma escola que reveja suas práticas escolares, isto é, seu planejamento, sua forma avaliativa e tudo mais que permeia a gestão escolar. Falo aqui de uma escola que desenvolva o potencial de todos os alunos, de uma escola que respeite as diferenças e que se adapte as necessidades do aluno, tenha ele necessidades especiais ou não.

É importante observarmos que o simples aceite de pessoas com deficiência em salas regulares não garante a permanência delas na escola e, muito menos, sua aprendizagem. Somente o conhecimento nos faz aceitar as diferenças e sermos capazes de provocar transformações. 

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